2024-04-18

Serviço Militar Obrigatório há 50 Anos


Cada geração passa por dificuldades específicas das suas épocas, com o aproximar dos 50 anos do 25 de Abril lembrei-me de contar as condições de vida dos jovens que nos anos 60 frequentavam o ensino universitário como, por exemplo, eu.

Antes da guerra colonial houve um tempo, talvez na década de 50 e noutras alturas em que os rapazes iam "às sortes", em que depois de se apurar os "aptos para todo o serviço militar" se tirava à sorte quem iria ser incorporado e quem ficava dispensado.

Por exemplo o meu pai, nascido em 1910, ficara livre do serviço militar devido a uma forte miopia enquanto o meu sogro, nascido em 1915, contou-me que andara nuns exercícios militares ao pé da Guarda durante a guerra de 1939-45.

Existia portanto a noção de não ser razoável que o país incorporasse todos os jovens em tempo de paz.

Contudo, após o início da luta armada pela independência em Angola em1961, na Guiné-Bissau em 1963 e em Moçambique em 1964 houve uma incorporação maciça de toda a juventude, em que pessoas com visão menos boa ou outros problemas de saúde eram incorporadas para serviços administrativos, enquando a grande maioria era incorporada “para todo o serviço militar”.

Estive a consultar os meus arquivos e revi a minha “Cédula de Recenseamento”aqui ao lado, datada de 1969, ano em que completei 20 anos e tive que me recensear. Este documento devia acompanhar o cidadão “para lhe servir de ressalva até ao dia em que for presente à Junta de Recrutamento”.

Quem estivesse a estudar num curso universitário e em condições de o concluir até um certo limite de idade podia pedir adiamento da incorporação até finalizar o curso e depois, caso se doutorasse até concluir o doutoramento, caso em que teria, todos os anos que pagar a Taxa Militar no valor de 60 escudos de 1970, que vi na Pordata valerem agora 20,12€, uma taxa mesquinha que fazia os cidadãos perder tempo para “indemnizar o Estado dum “benefício” que ele outorgara ao jovem estudante”.

No meu caso paguei a Taxa Militar em 1970 e 1971 conforme recibos ao lado, concluí a licenciatura em 1971 e fui incorporado no exército em Outubro/1972. 

Antes da incorporação no exército existia a possibilidade de se emigrar para evitar o serviço militar. Era uma decisão difícil pois passava-se à condição de “Refractário”. Pessoas nessa condição não poderiam renovar o Passaporte em Consulados Portugueses e caso regressassem ao país seriam imediatamente detidos e enviados para a prisão militar em Penamacor. A fuga para o estrangeiro após a incorporação correspondia a uma deserção, considerada mais grave. Permanecer no estrangeiro sem Passaporte colocava a pessoa na ilegalidade e numa situação frágil para arranjar emprego. De qualquer forma foi a opção de cerca de 1 milhão de portugueses que emigraram na década de 60, muitos deles não só descontentes com as condições de vida que a sociedade portuguesa então (não) lhes proporcionava como ainda com a perspectiva de participar na guerra colonial na condição de soldado.

Este artigo dum sítio do governo “Os Números na Primeira Fase da Guerra de África (1961-1965)” que tem alguns números da Guerra de África, refere que alguma emigração se fazia violando as obrigações militares. Na altura o acesso a informação era muito mais difícil do que agora e havia alguma desconfiança em relação a números oficiais, pela falta de transparência dos regimes autoritários como o que existia antes do 25 de Abril.

Após o recenseamento militar e até à passagem à disponibilidade, qualquer saída do país necessitava duma autorização das Forças Armadas. Já não me lembro do prazo de validade de cada uma mas era menor do que a validade do passaporte. Notei recentemente algumas semelhanças e diferenças sobre a necessidade das mulheres casadas precisarem duma autorização do marido para se deslocarem ao estrangeiro, no caso dos jovens tinham que pedir licença às Forças Armadas, enquanto as jovens solteiras não tinham essa necessidade

Quando se terminava a licenciatura era extremamente difícil encontrar emprego em empresas privadas, pois estas não estavam dispostas a admitir trabalhadores que passada uma quantidade de tempo desconhecida, que no meu caso foram 18 meses, se ausentavam durante 36 a 48 meses para o serviço militar.

No final dos anos 60 começaram a chamar pessoas que já tinham feito o serviço militar mas sem mobilização para África, para avaliar a sua aptidão para o curso de capitão, em que após uma formação formariam uma Companhia (cerca de 120 homens) que seria mobilizada para uma comissão de 24 meses.

A partir dessa altura as empresas privadas começaram a admitir apenas pessoas com serviço militar cumprido, dando preferência a candidatos que tivessem sido mobilizados para África durante o serviço militar.

As diversas hipóteses de carreira militar para pessoas com o 7º ano do liceu (11 anos de escolaridade), futuros oficiais milicianos eram as seguintes:

- No Exército (aqui ao lado está o B.I. Militar com foto em que tentei expressar ausência de entusiasmo):
- 1º Período de 3 meses em Mafra para “Introdução à vida militar” como “Cadetes” em regime de pensão completa no quartel, compatível com a ausência de remuneração, eventual licença para ir jantar fora no concelho de Mafra e possíveis licenças nos fins-de-semana;
- 2º período de 3 meses para um início de “especialização” encaminhando o recruta para uma das 4 “Armas” do exército: Infantaria, Cavalaria, Artilharia e Transmissões, passando no fim de Cadete a “Aspirante” e sendo colocado num quartel do Continente ou ilhas.
- Dependendo da especialidade/função atribuída poderia ser ou não mobilizado para Àfrica como Alferes, comandando um pelotão de 30 soldados ou desempenhando funções mais técnico-administrativas.
- Nos finais dos anos 60 começaram a seleccionar, entre cadetes com mais de 23 anos, alguns possíveis milicianos para o curso de Capitão. Desconheço os tempos envolvidos para esses casos.

Normalmente não se era mobilizado antes de passarem 12 meses desde a incorporação e não se era mobilizado mais de 24 meses após a entrada. A comissão em África durava 24 meses. Assim, para quem era mobilizado para África o serviço militar no exército poderia demorar de 36 a 48 meses. Para quem não era mobilizado a duração estava fixada em 39 meses. Isto eram os prazos normais, por vezes ocorriam atrasos de alguns meses.
 
- Na Marinha existia menor incerteza quanto à duração do serviço que estaria fixado em trinta e tal meses. Após o 25/Abril enquanto muitos milicianos do exécito foram passados à disponibilidade muito mais cedo do qu eo esperado, na Marinha tiveram que cumprir o prazo até ao fim.

Na minha chegada à Guiné fui surpreendido por boa parte da população não falar português, mostrando lacunas graves na alegada organização de Estado Unitário de Portugal. Os escudos que circulavam na Guiné eram específicos dessa Província Ultramarina e não havia liberdade de circulação dos habitantes pelas outras partes do Estado Unitário. Mesmo as tabelas alfandegárias eram diferentes, em Bissau era mais barato adquirir uisque do que na Metrópole. Existe actualmente maior liberdade de circulação de pessoas, mercadorias e capitais entre os diversos países da união Europeia do que então entre as diversas partes do Estado alegadamente Unitário de Portugal.

Havia uma quantidade apreciável de tribos, os Fulas, os Manjacos, os Papéis, os Balantas e outros de que não me lembro, diferenças previsivelmente exploradas pelas autoridades coloniais, seguindo o método blássico “divir para reinar”.

O 25 de Abril veio pôr cobro à guerra colonial, reduzindo o serviço militar de muita gente, instaurou a democracia em Portugal e facilitou redução das desigualdades económicas então existentes, se bem que continuem excessivas.

Sobre um eventual restauro do Serviço Militar Obrigatório eu concordo que ter umas forças armadas para evitar o "horror ao vácuo", que tanto se observa nas leis da Física como nas leis das sociedades humanas, é indispensável.

Considero contudo que em tempo de paz não é razoável ter um SMO embora o país deva manter uma estrutura permanente bem remunerada em tempo de paz e adequada para uma transição rápida para SMO em tempo de guerra.


2024-04-10

SMO – Serviço Militar Obrigatório


Recentemente tem-se falado muito da eventual restauração do SMO-Serviço Militar Obrigatório a propósito do alegado perigo que representa quer a Rússia quer alguns eufemismos referindo indirectamente o Islão e o Irão.

Tenho lido pequenos ensaios sobre o tema que me têm agradado imenso, como:

- o de Ricardo Reis no caderno de Economia do jornal Expresso de 5/Abr/2024 em que além de dizer que “Achar que, com um SMO, a defesa nacional fica mais barata é uma famosa falácia económica” conclui:
«
O SMO é uma política bem estudada com resultados claros. Em termos económicos, o SMO fica caro em relação à alternativa de deixar os jovens estudar ou trabalhar, cobrar-lhes impostos, e usar essa receita para financiar a defesa nacional, quer para comprar equipamento, quer para contratar voluntários. Em termos militares, fora de guerra, alguns países têm SMO e outros não, sem uma relação clara com a sua força militar. Em termos políticos, o SMO tem argumentos a favor de pendor autoritário, e argumentos contra de pendor liberal.
» 

- o de João Silvestre, no mesmo caderno, em que refere que parece necessário em caso de guerra
«
Acontece sempre quando há guerras: o risco para os soldados é (bem) maior, a necessidade de os ter também, e para equilibrar oferta e procura só mesmo com medidas mais drásticas. Não vai lá com salários, incentivos ou outras regalias com que se atraem trabalhadores para empregos ditos ‘normais’.
»
mas não na ausência de guerra
«
Com as devidas distâncias, o problema de recrutamento nas Forças Armadas acaba por ser o mesmo que se vive em quase todo o sector público: médicos, professores, quadros técnicos... Aquilo que se paga no Estado é claramente insuficiente para competir com o que as empresas oferecem. Tanto mais desfasado quanto mais diferenciados são os profissionais. As Forças Armadas são apenas mais um exemplo do mesmo mal.

»

- o de Luís Aguiar-Conraria
que destaca a característica de trabalho forçado do SMO, fazendo-me pensar nele como um resquício das obrigações feudais de trabalhos não remunerados dos servos a favor do seu senhor feudal
«
Nada melhor do que ler o que diz a “Convenção sobre o Trabalho Forçado”, da Organização Internacional do Trabalho. Logo na primeira alínea do artigo 2, é dada a definição: “A expressão ‘trabalho forçado ou obrigatório’ compreenderá todo o trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido espontaneamente.”

Lendo assim, é óbvio que o SMO se trata de trabalho forçado. Mas, logo na segunda alínea, vêm as exceções: “serviço exigido em virtude de leis do serviço militar obrigatório”, “serviço que faça parte das obrigações cívicas comuns de cidadãos de um país soberano” e “serviço exigido de uma pessoa em decorrência de condenação judiciária”. Ou seja, na verdade, o serviço militar obrigatório, o serviço cívico obrigatório e os trabalhos forçados nas prisões encaixam tão bem na definição que era impossível modificá-la para os excluir. Tiveram mesmo de, explicitamente, abrir exceções para estes trabalhos forçados. Não encontro melhor demonstração de que se trata mesmo de trabalho forçado.

»

- o de Clara Ferreira Alves
mais extenso e político, intitulado “O almirante quer endireitar-nos”, alertando para  o frequente apetite pelo poder dos militares, referindo os grandes perigos de corrupção nos processos de compra e manutenção de equipamentos militares e concluindo
«
Dar a chefes civis um extenso exército bem armado e às ordens constitui uma ameaça à democracia.
»


Como referi noutros posts estive em Bissau de Outubro/1973 a Outubro/1974, cumprindo o SMO, onde fotografei na avenida (11°51'43.6"N 15°35'00.6"W) que se chama agora “Amílcar Cabral” a passagem duma Chaimite e dum velocípede motorizado da Honda, que tinha pedais como uma bicicleta para quando faltava a gasolina ou para subidas mais íngremes, igual a uma que comprei nessa altura.

 



2024-04-04

Como vão os Blogues (das minhas listas)


É frequente a afirmação que os blogues passaram de moda, as pessoas passaram para redes sociais como o Facebook, o Twitter, o Telegram, o WhatsApp, o Tiktok e outras que já tiraram estas Últimas da crista da onda, como se dizia antigamente.

Tendo mantido no lado direito deste blogue uma lista de blogs de que fui frequentador assíduo enquanto activos e esporádico para uma ou outra consulta, fiz um pequeno estudo do que tem acontecido aos blogues dessa lista.

Nos anos de 2008 a 2011 a lista aumentou de 14 em Dez/2008 para 33 no fim de 2011. Nesse ano fiz uma lista de “blogues quase no Nirvana” para onde transitaram os blogues parados ou quase. Em 2017 rebaptizei esta lista com outro eufemismo mais explícito “Blogues pouco ou nada activos” para agora em 2024 a rebaptizar “Blogues Inactivos”.

A soma das duas listas atingiu um máximo de 50 blogues em 2015 sendo agora composta por 46, com 15 activos e 31 inactivos.

De 2011 a 2021, último ano em que houve blogues activos que pararam, observou-se a paragem de 12 blogues.

Constatei que até se atingir o máximo de 50 blogues nas duas listas houve entradas e saídas das mesmas, no segundo caso quando passaram a apresentar a frase “This blog is open to invited readers only”, ou quando aparecia a mensagem “endereço inexistente".

A inclusão de blogues na lista correspondeu inicialmente quer a uma recomendação quer a uma forma fácil de a eles aceder, designadamente para verificar se existiam novos posts. Esta segunda razão veio a perder interesse pela possibilidade de usar sítios da internet, como por exemplo o https://feedly.com em que se definem blogs dos quais pretendemos ser informados da existência de novos posts. Sei que existem pessoas que consultam este blogue dessa forma, para outras envio um email com uma lista quase standard contendo um link para o novo post.

Por vezes, para posts muito curtos ou que considero de interesse marginal, não envio esse email, tendo constatado que nesse caso o número de visitas é muito menor.

Na lista de 31 blogues inactivos apenas 7 foram terminados explicitamente, quer mencionando o falecimento do autor, quer comunicando que aquele será o último post. A maioria deixa de publicar, pensando talvez que num futuro mais ou menos longínquo retomarão a actividade o que, nesta pequena amostra, não tem acontecido.

Para finalizar as referências à lista digo que no “Dani Rodrik’s Weblog” se refere outros sítios da net,  designadamente o “Project Syndicate” em que este economista de ascendência turca, emigrado nos EUA em que tem ensinado em universidades, tem continuado a publicar. Li referências ao Dani Rodrik no blogue do João Pinto e Castro, infelizmente falecido em 2013.

Informo ainda que o blog do João Miguel “A-Z Weblog” sobre as actividades culturais da próxima semana (e além) foi substituído pelo “SugestÕes” que muito se recomenda.

2024-03-24

Donald Judd (1928 - 1994)

 

Noutro dia em casa de amigos vi uma espécie de estante cujas prateleiras estavam a ser usadas para guardar livros em posição horizontal.

Quando cheguei a casa fui à procura duma imagem que me lembrava de ter visto com uma forma semelhante, embora sem qualquer livro.

Constatei agora que vi pela primeira vez o objecto paralelipipédico aqui à direita quando passei por um pequeno artigo da Revista New Yorker de 2/Março/2020 referindo uma exposição retrospectiva no MOMA (Museum Of Modern Art) sobre as obras de Donald Judd, um designer, arquitecto e artista, que não gostava que as suas obras fossem consideradas esculturas mas apenas "boxy objects" que traduzi por "objectos paralelipipédicos".

Neste caso a transformação do substantivo "box" (caixa) no adjectivo "boxy" (em forma de caixa) não me pareceu simples de fazer em português  partindo da palavra "caixa"pelo que optei pelo "paralelipipédico", adjectivo vindo de paralelipípedo.

Na Wikipédia citam uma frase de Donald Judd sobre a importância da escala, e da funcionalidade nas obras de arte e no mobiliário

"The configuration and the scale of art cannot be transposed into furniture and architecture. The intent of art is different from that of the latter, which must be functional. If a chair or a building is not functional, if it appears to be only art, it is ridiculous. The art of a chair is not its resemblance to art, but is partly its reasonableness, usefulness and scale as a chair ... A work of art exists as itself; a chair exists as a chair itself."

 

Aqui à esquerda mostro uma fotografia do autor ao pé da obra que mostrei acima e que tem o título "Untitled", que vi na revista "Designweek"em princípio gastou este título e não o usou em mais obras.

Nas imagens disponíveis na net aparece esta obra em cores diferentes e por vezes com partes do objecto umas vezes opacas, outras vezes transparentes.

Neste artigo da artnews.com "Why Is Donald Judd Considered a Sculptor?"  de Abril/2020 fazem considerações sobre a vida e obra deste artista, a propósito da exposição acima referida no MOMA. Nos vários aristas referidos neste artigo constatei referência a Frank Stella de quem mostrei quadros em breve post de Fevereiro de 2012.





2024-03-21

Choupo-branco (Populus alba)

 

Este blogue fez no dia 17/Março/2024 16 anos, tratando-se portanto de um teenager. quase a chegar à idade adulta.

Mas antes de ter reparado no aniversário queria mostrar uma árvore, que fotografo de vez em quando, preferencialmente em Dezembro, no fim do Outono quando tem as folhas amarelas, a última vez foi em 17/Fev/2024, quando ainda não tinha nenhuma folha, para a mostrar no Inverno.

A árvore tem um cenário envolvente agradável com várias tonalidades de verde. como num arranjo floral, com alguns prédios a recordar que não existem cenários perfeitos.

Costumo fotografá-la ao fim da tarde, fica melhor com a luz a vir do lado em vez de cima, tal como dizem os livros, desta vez ficou assim

mostrando primeiro a parte que me pareceu mais importante mas mostrando depois a árvore na totalidade para eventualmente a apreciarem inteira.

Sempre tive dificuldade em desenhar árvores que fiquem minimamente realistas e nestas alturas uma pessoa repara que é mesmo difícilfazer uma reprodução realista.

Já chamei a esta árvore um plátano, depois um choupo-negro e agora finalmente um choupo-branco, vivendo e aprendendo.

 

 

Há 8 anos, em 2016 a árvore estava mais pequena, como se pode constatar na imagem seguinte, que foi tirada exactamente do mesmo local

 

E em 27/Mar/2008, poucos dias depois do início do blogue, postei esta imagem ainda da mesma árvore, desta vez vista de outro local

 





2024-03-20

Guerra Israel-Palestina em Gaza

 

Há mais de 2 meses que não publico posts sobre a guerra entre o Estado de Israel e os Palestinos, com maior incidência no território de Gaza, de onde partiu um ataque terrorista hediondo em 7/Out/2023, causando cerca de 1200 mortes, talvez 900 civis e 300 militares e 200 reféns levados para Gaza, organizado pelo HAMAS, grupo político-militar que geria o território de Gaza desde as eleições de Jan/2006 que ganhou à Fatah com 42,9% dos votos e 56% dos deputados. Desde 2006 não se realizaram mais eleições na faixa de Gaza.

Desde esses 2 meses tenho acompanhado com consternação os ataques do exército de Israel à faixa de Gaza, distanciando-me cada vez mais da actuação do Estado de Israel pelo qual tive em tempos grande consideração.

O que está a acontecer em Gaza, no contexto do indiscutível direito do Estado de Israel a se defender de ataques de que foi vítima, é completamente desproporcional pelas seguintes razões:
- causou mais de 30000 vítimas mortais e naturalmente maior número de feridos, resultantes dos bombardeamentos massivos sobre todo o território destruindo mais de 50% dos edifícios;
- cortou de forma permanente o abastecimento de água, electricidade, combustível;
- bloqueou a entrada de alimentos e medicamentos quer a partir de Israel quer do próprio Egipto;
- bombardeou hospitais deixando dois terços inactivos e os restantes sem capacidade de realizar cirurgias, com poucos medicamentos e sem analgésicos;
- invadiu hospitais e recentemente maltratou médicos dum hospital como descrito nesta reportagem da BBC e nesta referência também da BBC a pedido de informação do ministro dos negócios estrangeiros David Cameron;
- bombardeou escolas e instalações da UNRWA (humanitários da ONU);

Mostro a seguir uma figura da BBC Verify sobre a destruição da faixa de Gaza pelo exército de Israel
 


e outra, em que gerei um ficheiro .GIF (https://ezgif.com/maker) com dois instantâneos dum video do mesmo sítio da BBC, sobre a dinamitação dos edifícios da Universidade Israa(Palestina) ( )

 
 

 O que se está a passar em Gaza trata-se de limpeza étnica, uma prática reiterada do Estado de Israel desde a sua criação, com aspectos de início de genocídio.

Deixei de acreditar nos comunicados do exército de Israel bem como do seu Governo.


 

2024-03-19

Cartograma da População do Mundo por País

 

Cheguei a uma curiosa representação da população mundial de 2018 organizada por países, em que cada país tem uma área proporcional às pessoas que nele vivem.

Julgo que já tinha visto mapas em que cada país ocupava uma área proporcional a uma característica diferente da área que ocupava, mas com a globalização a dimensão da população torna-se ainda mais importante do que sempre foi.

Claro que esta representação tem limitações dado numerosas arbitrariedades quer inevitáveis, como por exemplo a implícita de se considerar os países povoados de forma homogénea, quer devidas a escolhas difíceis como por exemplo representar a parta siberiana da Rússia ou a zona do deserto do Sara.

Este trabalho foi concluído por Max Roser em 12/Set/2018, no âmbito da organização Our World in Data e compreendo que tenha quase 6 anos pois trata-se de um trabalho delicado, difícil de automatizar. Por esta altura a Índia já deve ter ultrapassado a China.

Clicando no mapa ele ocupará o monitor e poderá ser ampliado

 




2024-03-15

Legítima Defesa no Metro de Nova Iorque usando arma do atacante

 

Nesta notícia da BBC contam a história duma rixa no metropolitano de Nova Iorque no meio duma multidão, entre um homem de 32 anos e outro homem de 36 anos. O de 36 anos sacou uma pistola que foi usada pelo de 32 anos para lhe dar um tiro na cabeça. O atingido ficou mal mas alegadamente estável.

Desta vez a recomendação da National Rifle Association, que defende a tese que para evitar ser morto é melhor andar armado, não prevaleceu. Neste caso o perigo esteve precisamente em tentar usar a sua arma e quem se safou foi o que aparentemente não estava armado.

O recente envio da Guarda Nacional para o Metro de Nova Iorque a fim de garantir a sua segurança foi justificado mas ainda não produziu efeito.


2024-03-13

Raio de Luz sobre Natureza Quase Estacionária

 

 

Anteontem ao fim da tarde, quando durante um período curto  entra um raio de sol por uma janela da sala tipo fresta, orientada a poente, tive a oportunidade de tirar esta foto.

Pensei que não se tratava duma Natureza morta pois dessa qualidade apenas tinha o pot-pouri dentro da tigela do lado esquerdo. Depois reparei que a madeira das superfícies horizontais já fizera parte de uma planta viva.

A cena ainda contém um vaso cerâmico chinês com uma planta viva, contrariando a classificação de Natureza morta.

Os diversos objectos metálicos. de vidro de porcelana, de acrílico e de nylon não estão vivos nem mortos, são produtos naturais inanimados porque foram produzidos por vários animais da espécie homo sapiens.

Todos eles se movem pouco, donde a classificação de Natureza Quase Estacionária, possivelmente uma deformação de engenheiro electrotécnico habituado ao estudo de sistemas eléctricos também denominados quase-estacionários.

Além de gostar das formas dos objectos da imagem aprecio a forma como alguns dos objectos, designadamente a cópia que fiz duma escultura do Naum Gabo, que já mostrei noutros posts, irradia a luz que a atravessa, bem como a taça com tampa de vidro vermelho que tinge a escultura e a sua base, e que mostrei aqui menos iluminada.

 

 


 

2024-03-09

A Crónica de João Silvestre prevendo os resultados eleitorais

 

A habitual crónica semanal de João Silvestre na página 2 do caderno de Economia do jornal Expresso tem uma análise cuidadosa e bem humorada do que as sondagens têm apurado sobre as próximas eleições de amanhã, dia 10 de Março de 2024.

Resumindo :

«

Aqui vai uma previsão (quase) infalível para as legislativas de domingo: a AD terá entre 14% e 50% e o PS ficará entre 13% e 46%.

«

2024-03-05

Colonizar África



Talvez na sequência do post anterior, em que escrevi sobre o livro “Portugal e o Futuro” de António de Spínola, tenha feito alguma busca na net tendo então chegado a estes dois mapas de África (Scramble-for-Africa-1880-1913.png), que encontrei na Wikipédia, o da esquerda mostrando diversas organizações politicas existentes em África antes da colonização feita pelos países Europeus no século XIX.


Clicando sobre a figura os mapas aparecem maiores, sendo então possível ver os textos e as legendas das cores.

Cheguei depois a uma versão posterior (Scramble-for-Africa-1880-1913-v2.png) ( ) do ficheiro que mostrei acima, constatando-se bastantes informações adicionadas entre as duas versões.

 

Os textos estão em inglês mas na entrada em inglês da Wikipédia intitulada “Scramble for Africa” aparecem mapas com algumas diferenças em relação a estes.

Fui entretanto averiguar a história dos dois ficheiros que resumo a seguir:

- Ficheiro Scramble-for-Africa-1880-1913.png
Par de mapas de “davidjl123 / Somebody500”, iniciado em 2014, com várias actualizações até 2016, seguidas de uma em 2019 e duas de 4/Nov/2021. Depois de várias informações e da lista de actualizações vem uma lista de sítios que referem esta imagem, entre os quais se encontra a versão em Português intitulada “Partilha de Àfrica” da versão em inglês “Scramble for Africa”.

- Ficheiro Scramble-for-Africa-1880-1913-v2.png
Par de mapas de “Somebody500”, iniciado em Julho/2020m com várias actualizações até 4/Ago/2023. Tem também uma lista com sítios da net que usam esta mapa

Os mapas são sugestivos e certamente alguma da informação apresentada não é contestada mas alguma outra será provavelmente polémica.

Revisitei o meu livro de História do 5º ano do liceu (actual 9º ano), onde não existiam estes mapas coloridos, tendo referência ao nosso mapa cor-de-rosa que teria unido Angola a Moçambique, projecto que teria sido impeditivo do projecto inglês de ligar a cidade do Cabo ao Cairo, desculpa fraca quando o mapa mostra bem que a colónia alemã do Tanganika também era um bloqueador desse desígnio britânico.

O livro único do liceu reflectia o pensamento dominante do regime do Estado Novo. Geralmente os livros da escolaridade obrigatória são veículos do pensamento dominante do país na altura em que são impressos. Em regimes autoritários como o do Estado Novo traduzem sem nuances o pensamento das autoridades. Em regimes democráticos também reproduzem o pensamento dominante mas nesse caso incorporando algumas variantes pois o pensamento não é tão monolítico.

Aprendi então nesse livro que enquanto os Portugueses diziam que a nossa presença em paragens aficanas tinha séculos, o que era verdade, as outras potências europeias alegavam que essa presença se tinha limitado ao litoral, em postos comerciais, não havendo uma verdeira ocupação do interior. Além disto argumentavam ainda que Portugal não tinha habitantes suficientes para ocupar áreas tão vastas.

Por essa altura, talvez espicaçados pela urgência do reconhecimento do interior para contrabalançar o interesse das potências europeias Portugal empreendeu várias explorações de reconhecimento do interior.

Os mapas acima parecem reflectir a evolução do  reconhecimento reivindicado por Portugal, primeiro umas finas línguas de terra na primeira versão, em Moçambique com o rio Zambeze como via de penetração do interior, com áreas maiores na segunda versão. Acabo por achar que a diplomacia Portuguesa foi bem sucedida na Conferência de Berlim, pois os territórios de Angola e Moçambique eram verdadeiramente gigantescos em relação às nossas possibilidades para os desenvolver/explorar como se constata neste “Mapbite” (soundbite na versão mapa) que vi pela primeira vez quando decorria a guerra colonial de 1961-74

 

A propósito da nossa memória como sociedade, da nossa relação com África, refiro a expressão comum em Português “meter uma lança em África”, para designar a vitória sobre uma grande dificuldade. Já com a China ficou-nos a memória de “um negócio da China” para qualificar um negócio com grandes ganhos.

 Ao olhar o mapa de África mesmo na segunda versão reparei que a “terra incognita” em 1880 ainda era muito grande. Além dos desertos do Sara e da Namíbia, o interior no que agora é o Congo, com a sua densa floresta tropical e consequente ausência de vias de comunicação será a explicação mais verosímil. Fui também surpreendido pela falta de conhecimento da África Oriental, o canal de Suez foi inaugurado em 1869, antes da sua existência toda a costa oriental de África estava mais longe da Europa do que a ocidental e a prioridade dos barcos que por lá passavam era chegarem à Índia e ao Extremo Oriente.

Fui verificar agora a distância por barco, sem ser à vela, de Lisboa a vários destinos, resultados que se aplicam também aos países do Norte da Europa pois têm que passar próximo de Lisboa:

Lisboa – Luanda: 7500km
Lisboa –Maputo via rota do Cabo: 12000km (+4500km, +60%)

Lisboa –Maputo via Canal do Suez: 12250km
Como de Maputo ao ponto mais ao Norte da costa de Moçambique são cerca de 2000km para todos os países ao norte de Moçambique o trajecto marítimo a partir de Lisboa é bastante mais curto via canal do Suez. Em Moçambique, mesmo para Inhanbane, apenas uns 300km a norte do Maputo, já a rota do Suez é mais curta do que a rota do Cabo.
Para Lisboa - Mombaça por Suez: 9700km, via Cabo: 14700km

Por Via aérea:
Lisboa – Luanda 5800km,    7,2h @800km/h
Lisboa – Maputo 8300km, 10,4h @800km/h  (+2500km, +3,2h, +43%)

Constatei a minha enorme ignorância sobre as distâncias entre Portugal e Angola e Moçambique, revelando mais uma vez a minha falta de interesse pelas colónias africanas de Portugal, causa da nossa participação na guerra de 1914-18 e na guerra colonial de 1961-74 na Guiné, Angola e Moçambique.


2024-02-24

Recordando o livro “Portugal e o Futuro”


A propósito de um livro publicado recentemente sobre o impacto que teve em Portugal o livro do General António Spínola “Portugal e o Futuro” vi agora na net que foi publicado no dia 22/Fev/1974.

Na altura eu estava mobilizado em Bissau e o livro "O Portugal e o Futuro" estava à venda em todo esse nosso Estado Unitário Pluricontinental, com excepção das possessões ultramarinas, reduzindo-se assim a sua venda à então chamada Metrópole.

Deu-se a circunstância de eu ter vindo à Metrópole numas curtas férias, talvez de uns 10 dias em que por coincidência se deu o golpe das Caldas, parece-me que em 16/Mar/1974. Antes da viagem tinham-me encomendado o livro pelo que transportei 6 exemplares do referido livro, para militares então na Guiné.

As propostas do livro, uma espécie de Federação em que as “Províncias Ultramarinas” passariam a Estados dessa Federação, eram praticamente impossíveis de aceitar por movimentos independentistas que já estavam na fase da luta armada.

Na altura gostei de ler o livro mas aprecio o resumo feito por Raul Rego como citado pelo embaixador Seixas da Costa neste post muito equilibrado: "O que Vossa Excelência disse não é novo. O que é novo é isso ter sido dito por Vossa Excelência".

Quando cheguei a Bissau em Outubro/1973 já o Governador e Comando Chefe era o General Betencourt Rodrigues mas eram frequentes as referências ao seu antecessor nos cargos, o General António Spínola.

Revi agora alguns pormenores do que se passou na Guiné no blogue de Duran Clemente “O MIRANTE AL MIRANTE (2)” blogue que encontrei googlando (Fabião por uma Guiné melhor num Portugal renovado).

Verifiquei agora coincidência entre a minha memória duma correcção do “balde de água fria” que tive quando o graduado em Brigadeiro Carlos Fabião pronunciou a frase “por uma Guiné melhor num Portugal renovado”, ao chegar ao aeroporto de Bissau em 7/Mai/1974 para substituir o General Betencourt Rodrigues, uma frase considerada “Spinolista” e que foi corrigida na manhã do dia seguinte para “por uma Guiné melhor e um Portugal renovado” representando uma vitória do grupo de oficiais do MFA na Guiné sobre a posição do novo Portugal em relação a essa colónia africana.

Passadas talvez umas semanas foi-me atribuída uma missão importante mas de uma simplicidade infantil, que consistia em transportar mensagens entre o Governador da Guiné e o PAIGC (Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde), no percurso entre o agora Palácio Presidencial (11°51'50.36"N, 15°35'5.61"W) por trás do monumento na foto

 e o Agrupamento de Transmissões distante uns 2km e mostrado na foto seguinte
 


onde se vêem, ao fundo contra as nuvens, as finas torres metálicas suportando os fios das antenas construídas para interceptar as redes de rádio militares do PAIGC e que passaram a servir também para transmitir e receber estas mensagens entre o Governador e o Comando do referido partido.


2024-02-22

Evolução Tecnológica


Fiz um melhoramento no meu PC fixo, notava há algum tempo dificuldade na resposta do GoogleMaps na situação de “StreetView” e excesso de tempo necessário, quer no arranque do computador, quer no arranque de várias aplicações.

A minha experiência profissioanl com equipamentos de outras eras, que agora se diz ironicamente movidos a vapor, fez-me desenvolver técnicas de aproveitamento do tempo de espera, tais como ler revistas e jornais em atraso, ir à janela, fazer um chá, etc, que me levam a prolongar o tempo de vida dos equipamentoa informáticos, na senda da sustentabilidade.

Por exemplo o meu PC actual que comprei em 2014 por 500€,
HP 110-250ep intel(R) Core(TM) i3-3240T CPU @ 2.90GHz com 4GB, um disco duro de 1 TB e um leitor gravador de DVDs

 


está a fazer 10 anos de idade e só agora melhorei o hardware, mudando o disco duro para um SSD (Solid State Drive) de 1 TB e dupliquei a memória de 4 para 8GB. O PC viera com Windows 8.1 e foi actualizado em tempos para o Windows 10, sendo actualizado automaticamente pela Microsoft.

Como durante muito tempo tive que trabalhar, primeiro com impressoras a 300 Baud (para não falar dos cartões perfurados),  depois com monitores monocromáticos semigráficos de 20 e tal linhas por 80 colunas, depois com monitores gráficos polícromos CGA depois VGA de proporção 4:3 e agora finalmente com um monitor polícromo de 16:10 (1680x1050px) de 22 polegadas de diagonal, onde por fim posso ver comodamente duas páginas A4 lado a lado, tenho antipatia por usar o telemóvel para navegar na internet e de uma forma geral para tarefas que posso realizar no PC.

Como tenho uma vida bastante sedentária uso o meu portátil com grande moderação e nunca senti necessidade de um tablet, precisamente pela pequenez do monitor.

Depois desta actualização o PC passou a ser mais rápido e continuará provavelmente operacional até que a Microsoft deixe de suportar o Windows 10.


2024-02-15

Terramotos

 

Recebi hoje num email este anúncio de uma conferência na Ordem dos Engenheiros sobre "Reforço sísmico de alvenarias com isolamento térmico acoplado"

 


uma espécie de "dois em um", uma vez que se vai tornar o edifício mais resistente aos sismos aproveita-se a oportunidade para também o tornar mais resistente às variações da temperatura.

A propósito da referência no anúncio "2024 IGUALDADE DE GÉNERO NA ENGENHARIA"  lembrei-me dum post de 2017 intitulado "Colocados por género no IST no ano lectivo 2017-18", a situação não se deve ter alterado muito desde então.

Entretanto, era de manhã e ainda não estava a 100%, reenquadrei a imagem para ficar apenas com o prédio

 


apercebi-me que o prédio, bastante danificado mas em pé, estava rodeado por um mar de entulho, significando que era o único ou dos poucos sobreviventes de um conjunto de prédios vizinhos. Ao isolá-lo já pensava em googlar a imagem, tendo facilmente chegado a outra imagem do mesmo prédio

 


que constava da " Missão Portuguesa de Reconhecimento de Danos dos Sismos na Turquia de 6 de Fevereiro de 2023".

Tinha memória de ter ocorrido um terramoto muito grave na Turquia (e Síria) há relativamente pouco tempo, foi há pouco mais de um ano e existe uma entrada na Wikipédia "Sismos da Turquia e Síria de 2023" sobre esse evento terrível, em que perderam a vida cerca de 60 000 pessoas, com 120 000 feridos, cabedo à Turquia 50 000 mortos e 107 000 feridos.

Em Portugal não temos tido recentemente catástrofes naturais desta dimensão, no último terramoto que afectou o Sul de Portugal em 28/Fev/1969, com magnitude de 7,8, houve uma morte causada directamente pelo terramoto e mais 11 mortes de forma indirecta,  o fenómeno acordou-me do meu sono profundo com a cama aos saltos e um ruído duma potência que eu nunca ouvira. No Algarve, em que o  sismo foi mais forte, algumas casas antigas sem estrutura de cimento armado ruíram, mas foram casos isolados.

Desde então considero que os prédios de Lisboa estavam bem construídos e que com o susto os que foram construídos a seguir deverão ter ficado ainda melhores.

 Por enquanto por cá só temos tido os terramotos políticos, provocados pelo Ministério Público, seguidos de algumas réplicas presidenciais.


2024-02-05

Casacos de Guerrilheiros Hutis

 

Fui surpreendido por esta foto de alegados guerrilheiros Hutis, que vi no Morning Briefing do jornal New York Times de 5/Fev/2024 

 


com a legenda: "Houthi tribesmen near Sana, Yemen. Khaled Abdullah/Reuters"

 Percebo pouco de armas, o cano metálico seguro por um dos Hutis talvez seja um lançador de mísseis terra-ar e os canos apontados ao céu talvez sejam metralhadoras anti-aéreas, estão a usar um veículo produzido pela Toyota, tudo isto me parece normal num território há tanto tempo em guerra mais ou menos civil mas o que me surpreendeu mesmo foi o uso de casacos de corte clássico neste tipo de actividades.

De uma forma geral este tipo de roupa prende um pouco os movimentos, sendo práticas apenas pelo grande número de bolsos que possuem. Há muitos anos estes casacos tinham apenas uma racha central mas depois passaram a ter duas rachas laterais como os casacos da imagem. Os banqueiros costumam preferir a antracite, estes casacos a certa altura erem chamados "de fantasia" ou "de fim-de-semana", com uns quadriculados que quebravam a monotonia.

Actualmente este tipo de actividades no Ocidente requerem uma farda, normalmente mais funcional ou algo mais parecido com um fato-de-treino.

Serão yuppies que mudaram de ramo e usam agora o "Friday Casual Wear" neste tipo de actividades?

Ou a versão árabe do Bernard Henri-Lévi?


2024-01-31

Malika Favre (5)

 

Continuo fã desta maravilhora ilustradora, desta vez em mais uma capa da New Yorker dedicada a "As Princesas Fugitivas" sobre as dúvidas que existem sobre a qualidade de vida das filhas do Xeik Mohammed bin Rashid Al Maktoum, governante com poderes absolutos do Dubai.

Pelo menos duas princesas tentaram fugir de casa, provavelmente pela calada da noite, uma delas usando um bote e um jetski para chegar a um iate que durante a fuga foi invadido por comandos que a trouxeram de volta à casa paterna.

A Malika Favre fez uma animação .gif para a capa da edição online de que mostro a parte superior, numa cena nocturna com o edifício Burj Khalifa e outros prédios do Dubai ao fundo, e a princesa de cabelos  e capuz ao vento e fechando as pálpebras de vez em quando como mostro a seguir:

 


Tem depois mais 4 imagens imagens fixas associadas a 4 podcasts da revista que passo a mostrar





 Além dos posts que já dediquei à Malika Favre neste blogue, existe o sítio da internet da ilustradora https://www.malikafavre.com/  e ainda uma selecção de obras dela aqui.



2024-01-29

Consumos Domésticos de Electricidade

 

A e-redes, companhia do grupo EDP que gere as redes eléctricas de baixa, média e alta tensão de Portugal num regime semelhante ao da REN para a rede eléctrica de muito alta tensão sendo actividades fortemente reguladas pela ERSE, tem vindo a instalar contadores de electricidade digitais em substituição dos antigos contadores analógicos também nos consumidores domésticos.

A operação tem sido demorada e a leitura dos novos contadores para os leigos será um pouco mais complicada do que com os contadores anteriormente instalados mas entre outras vantagens destaco três:

 - estes novos contadores podem distinguir entre 3 períodos de facturação, podendo o consumidor optar entre tarifação única ou "tri-horária", sem necessidade de instalação dum contador especial como quando antigamente se optava por tarifa bi-horária;

- a leitura da contagem pode agora ser feita remotamente pela e-redes, presumo que o aparelho tem possibilidade de comunicar com o posto de transformação mais próximo usando os próprios fios condutores de electricidade como suporte para essa comunicação. O consumidor deixou assim de ter vantagem em enviar as leituras do seu contador para evitar as estimativas muito afastadas da realidade que ocorriam com frequência nos meses em que a e-redes não fazia leituras no local de consumo:

- ao fim de algum tempo (talvez semanas) após a instalação do contador digital a e-redes envia um e-mail ao consumidor informando-o que as leituras feitas cada 15 minutos no seu contador podem ser descarregadas no "Balcão Digital da e-redes na internet"

Para ver histórico de consumos:

1) Entrar no sítio: https://balcaodigital.e-redes.pt/home
2) Fazer login como cliente particular
3) Seleccionar: Os meus locais (Leituras, Contadores, consumos e potências, produção de energia e
4) Seleccionar: Produção, consumos e potências
5) Seleccionar: Consultar histórico
6) Seleccionar: Local que pretende consultar 

Aparecerá esta imagem:

Clicando no sítio indicado na imagem por uma seta vermelha poderá seleccionar o mês desejado, eventualmente dum ano anterior. Em Janeiro deste ano consegui aceder a todos os meses de 2023, não sei quanta história ficará disponível no futuro.
 

Os dados são disponibilizados por mês, o sítio mostra um gráfico desses valores, neste caso de Abril/2023

 



 e existe a opção de descarregá-los para uma folha Excel, como se constata no topo direito. Por exemplo para Abril/2023  temos um conjunto de 30dias x 24horas x 4valores/hora totalizando 2880 valores de potência média consumida em cada um dos períodos de 15 minutos.

Os dados são disponibilizados com este aspecto:

 

Acho interessante esta fartura de informação para eventuais necessidades futuras mas actualmente estou mais interessado no consumo anual, mensal, diário e horário pelo que construí uma folha Excel com esse propósito.

Existem também aplicações disponíveis na net para ver esta informação.


2024-01-22

Châteaux



As redes eléctricas dos países de toda a Europa ocidental e central estão interligadas, à excepção da Bielorússia e da Rússia e das ilhas da Islândia, de Malta e de Chipre. Existem ainda ligações para a Ucrânia, para a Turquia e para os 3 países do Magrebe que referi neste post. (ver adenda)

Existindo associações que agregam todos os TSOs (operadores de transporte de energia eléctrica) da Europa como a ENTSO-E, existem outras de carácter regional como a IESOE (Interligação Eléctrica do SudOeste da Europa) que agrega os TSOs de Portugal, Espanha, França e COMELEC, esta última uma associação dos TSOs de Marrocos, Argélia e Tunísia interligados entre si e Marrocos ligado a Espanha por dois cabos submarinos em corrente alterna a 400kV cruzando o estreito de Gibraltar.

A IESOE costumava reunir duas vezes por ano, em Junho e em Novembro, sendo as reuniões realizadas em locais dos países membros em sequência rotativa. Quando se realizavam em França tinham frequentemente lugar em “Chateaux”. Os estrangeiros chegavam ao local na véspera, havia jantar em grupo, na manhã seguinte fazia-se a reunião de 4 ou 5 horas com eventual pequeno prolongamento a seguir ao almoço e ia-se apanhar o avião de regresso.

Em Novembro/2010 a reunião teve lugar no Chateau d’Ermenonville uma aldeia a 50km na direcção Nordeste do centro de Paris e a 25km do aeroporto Charles de Gaule

Na vista aérea ao lado constata-se que, como quase sempre, o Chateau está rodeado por água, neste caso um lago, sendo o acesso restrito a uma ponte.

Entretanto ao escrever este post interroguei-me porque será que “chateau” se traduz por “castelo” quando os castelos de Portugal são tão diferentes destes chateaux de França e perguntei-me então qual a diferença entre chateau e palais pois estes chateaux pareciam-se mais com palácios do que com castelos. No mínimo os castelos portugueses costumam ter sempre ameias componente que raramente se vê nos chateaux.

A Wikipédia ajuda a compreender as diferenças, quando se procura “Chateau” na versão francesa chega-se à entrada Château (com acento circunflexo sobre o a) e quando se muda de língua quer para o inglês quer para o português quer para o espanhol, em vez das traduções “literais” respectivamente castle, castelo, castillo, aparece a mesma palavra château. Já em alemão aparece a entrada Schloss (Architektur), referindo a existência de Burg e Herrenhaus, esta última significando provavelmente “Casa de Senhor(nobre)”.

Passo a citar o texto da entrada château em português que se resume a este parágrafo: “Um château (plural: châteaux; pronúncia em francês: [ʃɑto]; em português: "castelo") é a designação dada na França a uma casa senhorial (casa do senhor) ou uma casa de campo de um nobre, com ou sem fortificações. Por extensão, o termo é também usado noutras línguas às casas que imitam os châteaux franceses”.

Por outro lado a entrada “castelo” em português quando se selecciona a língua francesa leva-nos a  “Château fort” em inglês a “Castle” e em espanhol a “Castillo” enquanto em alemão nos leva a “Burg”.

No liceu aprendi que o feudalismo em Portugal foi pouco acentuado pois a guerra contra os mouros aconselhava a unidade em torno do rei, por isso os nobres de Portugal não tiveram tantos direitos feudais como os franceses ou os alemães.

Mesmo assim volto a referir que estes Château franceses costumam estar rodeados por água, abundante nas planícies e vales mas que rareia no alto dos montes, como no castelo de S.Jorge em Lisboa, no castelo dos Mouros em Sintra, em Marvão ou no castelo de Silves. Em Portugal o único castelo de que me lembro rodeado por água é o de Almourol e mesmo assim sem estar em contacto com a mesma, deve ser a excepção que confirma a regra. Ser rodeado por água é certamente uma medida de protecção pois na ausência de perigo de invasão não parece razoável fazer uma construção com paredes que precisam de resistir às inevitáveis infiltrações. E o uso da água para protecção de palácios e fortalezas é também muito comum na Dinamarca.

A designação de palácio é mais usada para habitações luxuosas de pessoas com poder económico e eventualmente político, não tendo carácter fortificado.

Tentei arranjar uma perspectiva que revelasse a simetria da construção mas foi impossível mostrar a totalidade do chateau a partir do eixo de simetria pois a máquina (o telemóvel) não tinha zoom e não era razoável tentar caminhar sobre a água.

 

Esta vista do castelo fez-me logo pensar no château de Moulinsart, simpática residência do capitão Haddock, grande amigo do Tintin, cujo desenho passo a mostrar

 

O Chateau de Moulinsart pertencera a um antepassado do Capitão Haddock, apareceu pela primeira vez no álbum do Tintin “Le Secret de la Licorne” e foi comprado com parte do dinheiro ganho pelo professor Tournesol na venda ao governo do mini-submarino que inventara em “Le Trésor de Rackham Le Rouge

 

Hergé baseou a forma do chateau de Moulinsart no chateau de Cheverny, uma povoação que  fica 200km a Sul de Paris, ao pé de Blois, limitando-se a retirar as alas laterais, mantendo o resto da fachada intacto conforme se constata nesta animação que fiz (https://ezgif.com/maker) com a fotografia na entrada da Wikipédia para o chateau de Cheverny, "transformando-o" no de Moulinsart

 

Com o  tempo este chateau foi influenciado pelos interiores que foram sendo criados por Hergé nos álbuns que ia lançando, transformando-se numa espécie de museu das histórias do Tintin. O chateau influenciou a obra de Hergé que por sua vez influenciou o chateau.

Ao dar um pequeno passeio à noite em Ermenonville encontrei esta estátua, coordenadas: 49.12548205, 2.694267344 interrogando-me de quem seria.
 

Tratava-se de Jean Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo e escritor nascido em Genève e que veio morrer aqui, convidado do Marquês de Girardin.
 


Teve uma vida agitada, consequência das teses polémicas que defendeu sobre a natureza humana, a educação e as regras da sociedade.


Adenda: Corrigi primeira versão deste texto em que por erro referi que a Irlanda era um sistema isolado quando tem interligações DC com o Reino Unido. A Moldávia está ligada à rede continental europeia desde 16/Mar/2022. A ligação eléctrica entre Marrocos e Argélia foi desligada há uns tempos, provavelmente em 2021 após o rompimento das relações diplomáticas entre a Argélia e Marrocos em 24Ago2021 que referi num post, os sistemas argelino e tunisino deixaram assim de estar síncronos com a Europa Continental embora permaneçam síncronos entre si.

2024-01-20

Os jardins suspensos da Gulbenkian

 

Já sabia que o Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian era maravilhoso e, bem vistas as coisas, que uma parte do jardim era sobre o tecto da garagem, mas foi uma novidade tomar conhecimento a partir deste vídeo de 22 minutos tão interessante sobre o jardim, que 2/3 da área é de um jardim suspenso




2024-01-10

Presépio actualizado

 

Já tinha visto versões actualizadas do nascimento de Jesus em Belém, aludindo ao impacto que a guerra tem tido na Palestina. 

Agora vi uma versão desse tipo na Igreja do Campo Grande 

 


onde além da Sagrada Família e dos Reis Magos (foto tirada no  dia de Reis) se notam uns panos de tenda usados por refugiados em vez do clássico estábulo, umas ruínas por trás da tenda rodeada de escombros, a ausência do burro e da vaquinha, que ou fugiram ou foram usados para alimentar a população esfomeada, a ausência de pastores e de ovelhas pois existem poucos espaços para pastagens e finalmente a representação do "cogumelo" da explosão de uma bomba com a face inferior iluminada por um projector de côr avermelhada para dar maior realismo.


2023-12-31

Paciência de Chinês

 

Entre outras memórias da China os portugueses usam duas expressões características; "Negócio da China" para caracterizar um negócio muito lucrativo, provavelmente do tempo em que Macau era o porto comercial quase único por onde passava o comércio da China com a Europa e "Paciência de Chinês" para designar artesanato muito perfeito e muito trabalhoso.

Nesta última categoria cabem estes recipientes de vidro ocos em que o interior foi pintado com um pequeno pincel e muita paciência para evitar pinceladas fora do sítio, o da esquerda que comprei em Xangai, o da direita oferecido por uma delegação chinesa que visitou a REN e a quem fiz uma apresentação sobre actividades da empresa.

Ambos os recipientes eram antigamente destinados a guardar tabaco em pó, como outros frascos chineses que mostrei noutro post

 


O frasco da direita é um prisma cuja base é um triângulo rectângulo com ângulos agudos de 45º e estando a hipotenusa paralela ao plano do sensor da máquina fotográfica. As pinturas internas na parede do cilindro oco aparecem diectamente no centro da imagem do frasco e também reflectidas nas paredes internas, inclinadas a 45º, do prisma.

Rodando 180º à volta dum eixo vertical, o frasco da esquerda mostra outra pintura de grous e na imagem do frasco da direita aparece apenas o cilindro central pois as laterais estão a ser projectadas para as "traseiras" do frasco:

 


Para clarificar a geometria do frasco prismático mostro ainda outra perspectiva:

 


As três fotos acima foram tiradas com uma máquina reflex Olympus E-450. Ficaram muito mais escuras do que parecia à vista desarmada. Uso pouco esta máquina pois, ao contrário do telemóvel, não está sempre à mão. A ver se no próximo ano dedico algum tempo ao estudo desta máquina (talvez a única resolução para o ano que vem) cujo uso é muito mais difícil do que o telemóvel, que talvez não tenha tantas possibilidades mas que dá na maior parte das vezes uma imagem razoável como a que mostro a seguir do mesmo motivo:

 

Este será o último post do ano deste blogue, em que consegui igualar o número de posts do ano anterior que foram 70.

Desejo aos leitores um Ano Novo de 2024 muito feliz.